domingo, agosto 02, 2015

Meu avô, por Danton Abreu





Uma história que Danton Abreu​ contou agora sobre seu avô e me comoveu.

"Meu avô, Ruy Abreu.


Minha avó sempre falou que ele era pão duro- pelo menos 3 vezes ao dia- e eu não tinha muito contato com ele o que me fazia pensar que era verdade.
Um dia sai com meu avô para caminhar (devia ter 7-9 anos).  Vi numa banca uma caneta do Pokemon, e como qualquer criança da época, quis a caneta.
Lembro que fiquei com receio de pedir, porque se tratava de dinheiro com o General Ruy Abreu... A vontade era tão grande que rompi a barreira da inibição e pedi! Já esperando que ele dissesse: "Não, você já tem muito brinquedo", como era de costume- (essa questão do muito dependia do seu referencial, ele não teve brinquedos, era muito pobre). A resposta foi um surpreendente (Será?) sim, e começou a mexer no seu bolso. A primeira coisa que vovô tirou foi seu famoso jornal, que lhe servia como um maravilhoso quebra sol, o segundo ou o terceiro não lembro a ordem, um deles foi um catalogo dos dias do ano, daqueles pequenos com imagem de bichinhos em uma face do papel, e o outro um papel com seu endereço- caso se perdesse, vale salientar que ele já estava começando a ficar senil. Por último tirou um plástico, parecido com aqueles que se guarda cartão de crédito, onde tinha sua identidade, uma nota de dinheiro e moedas. Então começou o momento de suspense para mim, meu avô contando sua nota com as moedas, será que iria dar para comprar?
O dinheiro era pouco, mas deu, e por sinal não sobrou nada de troco para o coitado. Depois que peguei a caneta lembro meu primeiro pensamento: Acho que não devia ter ficado com o dinheiro! O vovô ficou sem nada!
Mas vi sua felicidade em me agradar e não houve em nem um momento resistência para comprar algo tão supérfluo... porque ele era avesso a tudo que não fosse essencial.
Acho que o mais triste é que a caneta não durou um dia, isso me entristeceu muito, pois queria tê-la comigo para lembrar do grande episódio com meu avô, o mesquinho que comprou a caneta do Pokemon para mim!
Mesmo que o vovô fosse mesquinho- o que não é verdade, ele deixou terrenos, casas para todos os filhos e outros necessitados que cruzaram seu caminho.
O generoso Ruy Abreu nos deixou algo mais válido que qualquer dinheiro, que qualquer bem material, nos deixou virtudes plantadas no solo de nossa família!
Realmente, não sei o que seria de minha família sem meu avô! Por isso tenho um sentimento de gratidão eterna por ele!"

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